A disfunção executiva na vida do adulto
É muito freqüente ouvir queixas de adultos sobre ter dificuldade de organização, planejamento e persistência para alcançar objetivos estabelecidos para a realização pessoal. Essas pessoas consideram que estão “dando o seu melhor” para fazer dar certo, mas na maioria das vezes não obtêm o resultado desejado.
Essa situação pode estar relacionada a um grupo de pessoas que sempre tiveram apoio e mediação de pais, terapeutas e amigos para execução das tarefas na trajetória escolar, nas tarefas diárias, resoluções de situação problema enfrentadas tanto na escola quanto no relacionamento social ou para se manter financeiramente. Mas chega um momento em que se deparam com a necessidade de tomada de decisão, definir a vida profissional ou projeto de vida e diante dessas situações não sabem o que fazer para vencer. Percebem então que faltam habilidades importantes para se tornarem mais eficientes. Isso faz com que se sintam incompetentes e tenham a sensação de incapacidade para lidar com esses desafios.
Isso tudo pode estar relacionado ao quadro de disfunção executiva, que se caracteriza pela dificuldade em ações como ter controle emocional ( identificar e saber lidar com as emoções como raiva, tristeza, alegria, medo..), no controle inibitório ( capacidade de pensar antes de agir ou saber inibir um pensamento intruso quando precisa focar em algo importante), aspectos como a empatia cognitiva (capacidade de saber se relacionar bem considerando a adequação ao perfil do outro, saber compreender a linguagem corporal ou as expressões), iniciar tarefas e persistir nelas e saber organizar o tempo para cumprimento das demandas diárias. Tudo isso engloba as funções executivas.
Na prática são adultos que apresentam alguns comportamentos como não conseguir concentrar-se para fazer uma tarefa, levanta sem parar da mesa de estudo ou trabalho, não conclui tarefas ou deixa para fazer no outro dia e vai adiando a concretização. Desorganiza-se com facilidade quando tem que fazer múltiplas tarefas, fica cansado após pouco tempo de estudo ou trabalho, pois “pensar” exige muito esforço e gera fadiga. Desiste rapidamente quando tem que resolver muitos procedimentos. Age às vezes sem pensar. Não aguenta esperar. É daquele tipo que não consegue se segurar diante de um sentimento de frustação, age e depois se arrepende.
A disfunção executiva acarreta prejuízos na vida acadêmica e profissional e compromete muito o desempenho do indivíduo nas atividades coletivas.
A pessoa pode ter um QI (coeficiente de inteligência) muito acima da média, mas essa inteligência não garante sucesso, pois seu QE (Coeficiente de execução) não condiz com seu intelecto.
A boa noticia é que as funções executivas podem ser estimuladas e reabilitadas mesmo na vida adulta. Através de terapia de treino cognitivo (estimulação direcionada de atenção, memória, organizaçãomental e planejamento) e transferência dessas habilidades para a demanda específica do paciente, psicoterapia (auxílio na regulação emocional) e uso de medicamentos.
Como tratar? O adulto pode consultar com um neurologista e psiquiatra. O profissional encaminhará para outros atendimentos como pedagógicos, psicológicos e coach. Não precisa ter receio do tratamento. Há sempre tempo para reabilitar e os resultados são na maioria das vezes rápidos, porém depende do envolvimento do paciente no tratamento.
Em tempos de pandemia, com o isolamento social, a exigência aumentou seja quanto ao controle emocional, capacidade de resolução de problemas como na necessidade de trabalho em equipe de forma virtual. Destacará no mercado aquele que conseguir se adaptar ao novo contexto. Então, esta é a hora!
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