Sabendo que a Discalculia é um transtorno específico de aprendizagem que afeta as habilidades aritméticas, muitas pessoas tem dúvida se é possível o diagnóstico no jovem e adulto e se dá tempo de intervir de alguma forma. Sim, é possível. E ainda acrescentamos que pode modificar a vida da pessoa, pois o diagnóstico traz uma resposta para suas frustações e ainda auxilia na busca de estratégias compensatórias ou de adaptação.
O jovem ou adulto normalmente sabe que tem dificuldades, mas não sabe onde ela está, se é na base ou nas funções complexas. Sabe portanto que não consegue realizar uma função de primeiro e segundo grau, pois se perde nos procedimentos. Esquiva de problemas que envolvem raciocínio lógico matemática e sente uma certa “preguiça” de fazer cálculos que exigem principalmente subtração, antes trabalham com operações mentais de cálculos aproximados.

Foi o que aconteceu com A.C.G de 16 anos. Ela sempre foi uma estudante cujas notas estavam na média. Durante todo o ensino fundamental e o inicio do médio teve aulas particulares sistemáticas. Os professores sempre diziam: “Sabe a matéria, mas troca números na hora da prova". Desta forma, a nota era baixa, mas como é muito esforçada, ficava na média”.
Os pais resolveram investigar e levaram-na na Clínica Vias do Saber. Após avaliações multidisciplinares, veio o diagnóstico: Discalculia. Ela precisava somente de usar a calculadora em situação de atividades de fixação e avaliação, porque ela compreendia perfeitamente as funções complexas. Na hora os pais olharam um para o outro e falaram: "Com uso de calculadora, as notas estarão muito acima da média, porque ela só erra cálculos." E não deu outra: as notas foram outras e após realizar o vestibular, ela pode escolher em qual universidade queria estudar. Para fazer o vestibular e o ENEM, ela optou pelo atendimento especializado com uso de calculadora.
Mas os discalcúlicos não são iguais. Os perfis pedagógicos diferem consideravelmente. G.S de 17 anos estava em tratamento psiquiátrico há dois anos devido a uma forte depressão quando a psiquiatra Mariany Gomes resolveu investigar o aprendizado. O sofrimento aumentava quando ela tinha que fazer provas e os sintomas de ansiedade acirravam quando ela recebia os resultados que normalmente eram abaixo de 20%. O diagnóstico de Discalculia veio para aliviar, mas ao mesmo tempo, o medo aumentou. Será que é possível alguma adaptação? A adequação curricular que a contemplava não era tão simples, somente o uso da calculadora não permitiria um bom desempenho. Ela precisava de redução de conteúdos, aprenderia o mínimo sobre os conteúdos matemáticos e ainda precisava de modelos de resolução.

Muitas vezes, a escola vê o uso dos cartões resumos, os chamados flashs cards como uma espécie de “cola”. Há jovens e adultos que aprendem com metodologias mais individualizadas e por instrução. Quando inseridos no mercado de trabalho, necessitarão de tecnologias alternativas para ajudar no desempenho, o que não os impede de serem ótimos profissionais.
A escola acredita que isto não é inclusão, que a estudante ser tratada diferente é uma forma de exclui-la do processo educacional. Inclusão não é fazer tudo igual, mas é ter acesso às informações como todos tem. Há profissionais que acreditam que isto é injusto com os demais estudantes, mas em termos de acessibilidade é o mesmo que permitir que pessoas com baixa acuidade visual façam atividades usando óculos. A diferença é que o diagnóstico de Discalculia é clínico e não existe um exame laboratorial para provar a alteração. Ela é evidente quando observado a funcionalidade do estudante.
A situação de G.S foi mais trabalhosa, mas teve um final feliz. Ela conseguiu entender de fato matemática? Não! Ela teve acesso a recursos e metodologias diferentes para ser incluída no processo educacional. Terá um futuro brilhante na faculdade ou na carreira? Sim, desde que use tecnologias para auxiliar no seu desempenho e de preferência que escolha carreira em que não tenha que lidar com raciocínio lógico matemático constantemente.
A preocupação dos jovens e até mesmo dos pais é: mas e o futuro? No futuro, discalculicos farão o que nós já fazemos: usarão calculadoras, usarão tecnologias a seu favor e de forma alguma trabalharão sem um aplicativo por perto. Alguém viu alguma diferença entre hoje e o futuro?


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