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Foto do escritorOzana Leal

Mas matemática é para a gente entender?

Atualizado: 29 de jun. de 2020


Matemática sempre foi famosa por deixar pessoas sem dormir. Ela é mais que um monte de números, envolve cálculos e resolução de problemas que normalmente as pessoas não veem onde se aplica. Alguém já parou para pensar em que momento da vida se usa as regras dos produtos notáveis? A queixa vem de jovens e adultos que estão no ensino médio ou na faculdade. E alguns dizem: “mas matemática é para a gente entender?”

Atender o jovem ou adulto no consultório é instigante e ao mesmo tempo desafiador para o profissional clínico. O paciente chega com uma queixa atrelada a fatores emocionais que arrastou por muitos anos. Titubeia na dúvida se de fato é um esforçado ou um derrotado e junto vem o desabafo: “sou péssimo em matemática.”

Na entrevista inicial evidenciam a ansiedade, a desorganização do pensamento já instalada e o medo do futuro, porque ele já está bem próximo. É neste momento inicia o lidar com fantasmas que mexem com as emoções e com relatos que melhor que fossem esquecidos, mas não são. E quando submetidos a uma avaliação do perfil pedagógico, ao realizarem os testes, resgatam momentos de tristeza da infância passada frente às atividades de fixação, do alerta dos professores e da fala dos pais. Em uma testagem, uma jovem relatou: Eu só queria saber dar o troco sem ter que ser escrava da calculadora, até para tirar 8 de 10 reais.”

Não é comum que as dificuldades comecem na primeira infância. Pode ser relacionada à cognição matemática, quando havia uma demora para estimar, não distinguia com facilidade o que era maior ou menor ou demorava para relacionar número e quantidade e a recorrência ao contar nos dedos. É muito comum que contem nos dedos na hora de fazer o teste, mas fazem escondido. Depois relembram como era difícil fazer as contas de subtração com reagrupamento, o chamado “pede emprestado” e o semblante fica bem pior quando lembra de expressões, polinômios, equações e as funções e desabafa: “ Ah! Eu só lembro que tinha que fazer um negócio que tinha boca para cima e boca para baixo e era em papel quadriculado.”

Motivos para chegar a este ponto são inúmeros, mas é importante que se investigue o desempenho acadêmico em leitura, escrita e matemática. Lacunas podem estar instaladas sem que fosse percebida durante o percurso escolar. Chegar ao ensino médio e no superior sem sequer imaginar que as dificuldades estavam lá na base de aprendizagem.

A dificuldade se justifica por inabilidades relacionadas à numerosidade, o que pode ser um dado relevante para diagnóstico de Discalculia, que é um transtorno específico que afeta a aritmética e/ou também déficits atencionais que impactam na função executiva.

Em ambos os casos, o fracasso em matemática é bem evidente. Para entender qualquer conteúdo, o estudante necessita de habilidades relacionadas à cognição e execução. Pode ter inteligência dentro da média ou até mesmo acima dela, mas executar muito mal porque não planeja, não se organiza diante de muitos estímulos, tem dificuldades com a memória operacional e seu nível atencional é flutuante.

Observem o quadro abaixo:



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Quem tem conhecimento da linguagem matemática, sabe que no quadro tem inúmeros assuntos: fórmulas de energia, cálculo de função, trigonometria e cálculo de raiz. Uma pessoa que tem disfunção executiva vê somente um monte de números e letras e não consegue identificar de imediato qual é o conceito e se perde nos procedimentos de resolução ou se realiza a tarefa, a latência é aumentada, traduzindo, gasta mais tempo que os escolares de padrão típico.

A pessoa que consegue organizar e entender as diversas expressões do quadro acima, sabe fazer um mapa mental, os que não, veem um “monte de coisas” e só de olhar sente-se cansado e desiste.

E o que isto tem a ver com o desempenho ruim em matemática? Tudo! O aprendizado de matemática na maioria das vezes requer organização viso espacial, ou seja, para realizar operações matemáticas, equações até às funções exponenciais precisa organizar-se num espaço chamado papel e atualmente podemos expandir o tema para as telas digitais. Se a pessoa não consegue nem se organizar no espaço do seu quarto, não guarda as roupas na gaveta, o que dirá de se organizar em espaços tão pequenos que é o caderno ou numa plataforma?

Receber explicações sobre o que compromete o desempenho é importante para o jovem ou adulto, pois desta forma, ele apropria de estratégias que podem compensar suas dificuldades. Existem técnicas que podem ajudar como o uso de papel quadriculado, tabelas, diagramas e intervenção pedagógica para estimular a construção de mapas mentais.

Sim, mapas mentais não ajudam apenas na leitura, mas também na matemática. A técnica pode auxiliar o estudante a colocar as informações no lugar certo e fica mais fácil de resgatar. A intervenção proporciona não só a organização das informações no papel, mas na mente. Mapas mentais podem auxiliar a concatenar informações auditivas numa reunião de trabalho, nas aulas expositivas e até mesmo em reuniões remotas, onde se mistura as informações visuais e auditivas.

E nunca é tarde para intervir nas dificuldades, mesmo estando no ensino superior ou pós. Resgatando a mitologia grega: “Decifra-me ou te devoro”, é melhor decifrar o que acontece conosco antes que sejamos de fato consumidos pelo desconhecimento.


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