Uma das grandes experiências da criança concernente a linguagem expressiva é o desenho. No início a criança está só verificando que seus traços colorem um papel branco, mas cabe aos pais dar nome ao que ela faz e tornar aquele momento ímpar e de festa. Nasceu ali um registrador..... exagero de mãe e pai, imaginem!!!!!!!!.
Foi assim que tive o meu grande momento, quando minha filha Giulia fez aos 1 ano e 6 meses o seu primeiro rabisco. O nome Giulia significa peixe.
Eu gosto muito de desenhar e fiz o desenho. Ela pegou numa caneta (naquela época eu não sabia que o instrumento poderia machucá-la, hoje pegaria um giz de cera) e fez o primeiro protótipo de um peixe. Na verdade, ela só fez o rabisco do olho do peixe.
As crianças desde cedo já querem se expressar através do que chamamos de garatuja.
A partir de um ano de idade aproximadamente, a criança já começa a colocar objetos na sua memória. Ela sabe que o objeto está ausente, mas ele existe e agora ela começa a representar aquilo que está na sua mente.
Segundo Lowenfeld (1970) na obra: o desenvolvimento da Capacidade Criadora, estabelece quatro fases evolutivas para o desenho infantil:
Primeira fase - Garatujas
1 a 2 anos - Desordenada: pouca noção do que está traçando e às vezes nem vê o que faz. A criança preocupa mesmo é em verificar que um papel branco está sendo preenchido. Fica ali experimentando....
1 ano e 6 meses. Peguei na caneta e desenhei um peixe. Ela achou uma maravilha! Foi rabiscando sem nem olhar direito para o papel, mas apontava para que eu desenhasse de novo o tal peixe e ela ia completando, como se fosse o olho do peixe.
2 a 3 anos - Ordenada: observa o desenho que faz no papel. Usa cores e faz círculos ou espiral. Descobre que pode mudar de cores.
2 anos e 2 meses - Mãe, eu já sei desenhar o peixinho. Vem, mãe, vem ver.....
A batalha da Giulia para desenhar este peixe sempre voltava. Até que aos 2 anos e 2 meses, estava quase que consolidado o tão esperado engenho. Quem não é a mãe da Giulia dirá que está mais para desenho de girino que peixe, mas vai lá explicar isto para uma mãe...... melhor nem tentar.
3 a 4 - Nomeada: A criança representa o objeto por meio de uma imagem gráfica. Começa a dar forma à figura do ser humano.
3 anos e 3 meses - "Acho que vou desenhar um cachorrinho, mãe. Eu queria um cachorrinho. Olha a boca dele"
Segunda fase - Pré -esquemática
4 a 7 anos : faz movimentos circulares e longitudinais da etapa anterior evoluem para formas reconhecíveis, passando de um conjunto indefinido de linhas para uma configuração representativa definida. Por volta dos seis anos pode chegar até a desenhar uma figura humana bem formada.
5 anos. Eu vou desenhar a Giulia.
Mas para que desenhar estes dedos tão grandes??? pois é, a criança representa os dedos de forma desproporcional ao restante do corpo. Ela ainda não se organizou para desenhar todas as partes do corpo, observando a perspectiva correta, mas está tentando colocar todas as partes no devido lugar.
Terceira fase - Esquemática
7 A 9 anos : desenha a linha de base e, portanto, é capaz de fazer uma linha de terra e colocar o que é da terra na terra como as árvores e as casas, e o que é do céu no céu como as nuvens e o sol.
6 anos. Dia das mães e vou desenhar a minha mãe.
Quarta fase - Realismo
9 aos 12 anos: desenvolve maior conscientização e interesse pelos detalhes, podendo até desenhar uma mão diferente da outra. Também desenvolve maior consciência visual e, portanto, não produz mais exageros, nem faz omissões para expressar suas próprias emoções.
10 anos. A gente frequentava uma igreja muito grande e neste dia foram convidados mais de 30 surdos para o evento. E pela primeira vez, teve surdos e intérprete de Libras. Chegou em casa e fez o desenho.
Do realismo, a criança vai constituindo o seu mundo. E no papel vai colocando as suas ideias. Da prática do desenho vem a escrita.
E da história de um peixe, nasceu uma grande escritora. Qual livro ela publicou? Nenhum até o dia de hoje, mas registrou o que sentiu e até hoje me faz lembrar do quanto foi e sou feliz por tê-la.
Bibliografia
Lowenfeld, V. A criança e sua arte. 2 ed. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
Lowenfeld, Viktar; BRITTAIN, W. Lambert. Desenvolvimento da capacidade criadora. São Paulo: Mestre Jou, 1997.
Iavelberg, Rosa. O Desenho Cultivado da Criança: Práticas e Formação de Educadores. Ed. Zouk.
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