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Foto do escritorOzana Leal

A fadiga do Zoom e a saudade da sala de aula

Atualizado: 17 de jun. de 2020

Estamos constantemente ouvindo e lendo sobre as narrativas dos pais acerca do comportamento das crianças mediante o ensino remoto. E não é raro os dizeres sobre estarem “totalmente desmotivado”, “desatento” e “sem vontade de assistir as aulas".

A criança ama estar na frente de um computador, quer jogar e se deixar fica o dia todo na frente da tela, mas é só falar de aula remota.... criança muda de expressão e não tem vontade de assistir. Por que este comportamento?


Porque assistir as aulas remotas exige muito da nossa atenção. Quando estamos em ambiente coletivo de sala de aula, as expressões faciais são mais fáceis de serem vistas, reconhecemos de imediato as variações dos tons de voz, tem outros estímulos que nos atrai, como os detalhes da letra da professora, a brincadeira, o jeito dela se posicionar perante a turma e até mesmo o brinco da professora deixava a sala mais tranquila.


Melhor ainda era ver o tênis novo do Davi, a mochila do José Eduardo, a pulseira da Ana Luíza e o penteado moicano do Raul. E tinha ainda o momento do recreio onde o Filipe falaria das últimas notícias dos Vingadores. E olha que o Arthur sabe imitar o superman perfeitamente.


E tinha o momento bom com os professores. E eles usavam marcadores de quadro que são coloridos e que interferiam no nosso cansaço, aliviando a tensão do aprender. Enfim.... tudo isto era escola, mas depois de março tudo mudou.

E depois de três meses, vivemos o nosso momento banzo. E conseguimos agora refletir sobre o que aconteceu e organizamos um pouco as ideias sobre o ensino remoto. Entendemos então que para aprender precisamos muito de atenção e além do mais ainda temos que guardar todas as informações nos cantinhos certos do cérebro para depois resgatar. Haja fòlego!


Mas o ensino remoto retira parte da leitura de faces e das entonações, dos timbres que servem como fragmentadores

da atenção concentrada. A conversa rapidinha com o colega ao lado também auxilia no aprendizado, pois às vezes a observação do outro auxilia na elaboração de um mapa mental.


Sabe o que isto significa? Que demos um descanso para o cérebro e depois ele começa a fazer o serviço pesado que é apreender informações, formar rotas e depois de um bom sono a noite, formam-se as sinapses. Para isto acontecer, precisamos de entrada de informações, armazenamento e resgate. Como o trabalho é árduo, gasta energia e com o gasto é necessária a reposição.

E como podemos repor? Deixando a nosso cérebro descansar um pouco. E o que tem acontecido? Aulas remotas por 4 horas, mais tarefas de casa que normalmente tem que voltar no Google Class room para ver o material em PDF e lá se vai mais tempo na tela.

A Revista Harvard Business Review de 29 de abril de 2020, publicou sobre a fadiga do Zoom. Discorre sobre o que as videochamadas tem proporcionado aos adultos. Neste mesmo artigo, Liz Fosslien e Mollie West Duffy citam cinco dicas baseadas em pesquisas que podem ajudar a tornar as videochamadas menos cansativas: Evite multitarefa, construa intervalos, reduza os estímulos na tela, torne os eventos sociais virtuais aceitos e alterne para telefonemas ou e-mail. Para os adultos, o artigo ajuda muito.


Baseado neste artigo, pensamos nas dicas que pais, cuidadores e professores de crianças do ensino fundamental necessitam para tratar neste momento tão impar da nossa história.


Para os pais valem quatro dicas:


  1. Deixe o ambiente limpo, livre de distratores.

  2. Evite multitarefas: Deixar somente a plataforma digital aberta que será usada na sala. Deixar o link dos jogos on line aberto é um distrator em potencial.

  3. Construa uma rotina de atividades motoras e inclua afazeres domésticos. Dar comida para os bichos, lavar algumas vasilhas, guardar sapatos e roupas.

  4. Tenha um momento para se falar do que está sentindo com o isolamento social. Relate momentos de dificuldades vividos e que passaram. A pandemia vai passar....


Para os professores vão lá oito dicas:



1. Ao realizar sua chamada pela plataforma de encontro, não deixe evidenciar quadros, objetos, brinquedos, pois eles distraem a criança ou o adolescente. De preferência use cromakey verde limão ou azul celeste como quadro ou a parede branca.

2. Construa intervalos: Dar informações de 15 a 20 minutos e deixar que a criança faça uma atividade no papel ou até mesmo motora. Pode-se também contar uma piada ou um caso relacionado com o assunto abordado, como se fosse uma curiosidade.

3. Use marcadores como um coração de papel que você construiu na sua casa ou usar recursos da mesa digitalizadora para chamar atenção para palavras chaves que queira que as crianças memorizam. Quando falar de um assunto, você levanta o fantoche ou o coração.


4. Ofereça mapas mentais ou tabelas resumos de palavras chaves.


5. Compartilhe a tela de produções feitas pelos colegas para toda a classe, dando sempre feedback positivos sobre o aprendizado.


6. Reduza estímulos na tela: Deixe na tela somente as informações necessárias, não coloque adesivos, figurinhas ou outro desenho que possa poluir a informação que for passada. Ao compartilhar tela, use marcadores como flechas, sublinhação de verbo de comando ou tabelas bem organizadas com as informações. Não coloque na tela muito material escrito, somente seis palavras em cada slide para auxiliar na compreensão. Em alguns momentos pode-se colocar somente uma palavra e desenhos relacionados.

7, Diversifique as atividades. Um dia vamos trabalhar com podcast e tentar descobrir de quem é a voz que está narrando esta poesia? Vamos para o chat e coloque lá três nomes de crianças e os colegas vão votando de quem é a voz. Descubram também em que momento houve a pausa errada da vírgula.

8. Organize a sua plataforma: O professor pode reservar momento de liga e desliga microfone. Ele mostra uma ficha de um nome de criança. Somente aquela criança deve estar com o microfone ligado e dizer "Eu estou aqui" e os demais desligam. Depois faça isto com os nomes de duas crianças, o da direita fala primeiro e o segundo depois. Assim o controle de sala de aula vai se constituindo.


É sempre importante lembrar de Carl Jung sobre conhecer todas as teorias, dominar todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.


Esta pandemia além de estimular a nossa inventividade, nos forçou a compreender que sempre precisaremos de laços humanos mesmo que seja ainda por telas digitais.


Para ler mais:


Revista Harvard Business Review de 29 de abril de 2020 disponível em https://hbr.org/2020/04/how-to-combat-zoom-fatigue, acesso em 15 de junho de 2020.





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